O Jogo GRIS : um jogo cheio de metáforas.

Criado pela Nomada Studio e publicado pela Devolver Digital, o jogo Gris é poético e artístico. É um jogo narrativo, de plataforma, com elementos de puzzle. A arte é desenhada a mão, com traços delicados e cores de aquarela.

Gris é o primeiro jogo lançado pela Nomada Studio, indie situada em Barcelona e fundada pelos desenvolvedores Adrian Cuevas e Roger Mendoza e pelo artista Conrad Roset.

O enredo do jogo Gris.

O jogo Gris se desenrola em uma mundo em ruínas. Assim, traz um enredo metafórico, que sugere um mergulho no interior de si mesmo. Contudo, trata-se de uma narrativa aberta.

A protagonista atravessa uma experiência traumática e deve prosseguir. Contudo, qual seria essa experiência, fica a critério da interpretação do jogador.

Poderia ser, por exemplo, uma experiência de luto. Seria certamente luto por uma figura feminina. Mas qual seria essa figura? Sua mãe ou outra figura materna? Uma faceta da personagem? Uma representação de si mesma que se rompe? Uma fase da vida? Uma desilusão amorosa?

A questão é que mundo e interior da personagem são representados por paisagens desertas e templos em ruínas.

Com isso, a única tarefa do jogador é encontrar os caminhos e adquirir as habilidades para poder prosseguir no jogo.

Metáforas nas imagens de Gris.

Em seu percurso, a personagem sobe alturas vertiginosas e mergulhar em oceanos abissais. Atravessa desertos, geleiras e grutas na escuridão. Passeia por templos e palácios em ruínas.

Conforme avança, vai adquirindo cores para seu universo interior. O jogo inicia com uma paisagem cinzenta. A propósito, Gris significa cinza (a cor) em francês.

Com isso, conquistamos primeiro vermelho, talvez ligado aos sentimentos da personagem. Depois o verde, quando surgem plantas e animais e nossa protagonista faz sua primeira aliança. Depois, a conquista do azul, traz a chuva, o gelo e o mar. A conquista do amarelo traz luz. O violeta traz flores.

Em seu percurso, nosso avatar feminino vai adquirindo habilidades. Torna-se rocha, aprende a pular mais alto e a plainar como um pássaro. Torna-se arraia para mergulhar mais profundo. Todas essas habilidades são representadas por transformações de sua roupa, de suas vestimentas.

Assim, nossa personagem atravessa diferentes profundidades e registros. Voa como um pássaro, nada como um peixe, perde o medo da queda.

Muitas vezes, precisa retornar em seu caminho para encontras as estrelas que lhe permitem passar à próxima etapa.

Também enfrenta seus monstros interiores representados pelo Boss em forma de pássaro, serpente aquática e, finalmente, em forma de figura feminina.

O Boss é desenhado em tinta negra que inunda a tela do jogo, o guache se diferenciando das outras cores aquareladas.

Contudo, o Boss acaba também servindo como aliado. Como é o caso do sopro do pássaro que deve ser aproveitado para impulsionar a personagem para frente.

Referências do jogo Gris.

Gris se aproxima de jogos que investiram fortemente na beleza de sua arte, como Journey, Ori and The Blind Forest, Flower, Monument Valley e Child of Light. Jogos tranquilos e sutis com elementos metafóricos e simbólicos.

A música do jogo Gris.

Os efeitos sonoros e as músicas de Gris são extremamente ricos e detalhados.

Predominam no Jogo Gris atmosferas com muitos efeitos e sonoridades etéreas que dialogam com a delicadeza das imagens.

A música foi composta por Berlinist. Uma banda e produtora sediada em Barcelona e integrada por Marco Albano, Luigi Gervasi e Gemma Gamarra.

O som do piano se sobressai. Contudo, também há muito trabalho de cordas, principalmente solos de violoncelo, lindos vocalizes, órgão e sintetizadores. Além de partes orquestrais e partes com coro.

De forma geral, a música desenvolve-se a partir de pequenos fragmentos melódicos que emergem de uma atmosfera de efeitos sonoros e sonoridades de sintetizadores.

O silêncio em algumas passagens do jogo é também um elemento dramático fundamental.

A personagem canta. Perde sua voz no início do jogo, mas acaba recuperando-a. Nesse momento, cantar é uma das ações da personagem no jogo.

O som, portanto, não apenas acompanha o que ocorre na imagem. É utilizado como dispositivo da mecânica do jogo. Uma habilidade adquirida pela personagem, que a permite avançar no jogo.

Além disso, mudanças nas tonalidades musicais dialogam com as conquistas das cores durante o jogo.

Chamou minha atenção, por exemplo, o tema Komorebi , do capítulo da conquista do verde. Essa é uma das fases mais otimistas do jogo. Komorebi está em Re maior. É um dos únicos temas do jogo em tonalidade maior, o que talvez se relacione ao intuito dos compositores de resgatar a relação histórica das tonalidades maiores com representações de alegria.

Lightmotives na música de Gris.

Por vezes, os compositores se utilizam da técnica de lightmotive. Essa técnica deriva do poema sinfônico do século XIX e é muito usada no cinema hollywoodiano. Ela consiste na utilização de um fragmento ou tema musical para representar ou simbolizar um personagem ou temática da narrativa.

Por exemplo, no capítulo da conquista do vermelho, ouvimos um tema de cordas em trêmulo e arpejo de órgão que anuncia a chegada de um vento forte que impede que a protagonista avance.

Há também um tema de cordas que anuncia o aparecimento do Boss pássaro e um motivo de órgão e sinos que representa as estrelas que a personagem deve encontrar. Toda vez que a personagem encontra uma estrela, descobre quantas estrelas deve encontrar ou consegue completar a ponte de estrelas para a próxima fase o tema das estrelas se sobrepõe à música da fase.

Conclusões.

Gris é um jogo com arte única e original, cheio de metáforas e simbolismos de imagem e também de som e música.

Em sua arte vemos representados diferentes estados de espírito que devem ser percorridos pela personagem em sua jornada.

É um jogo sobre descobrir caminhos e desenvolver habilidades para continuar avançando.

Imagem do jogo GRIS
Tipo de licença: Alguns direitos reservados.

4 thoughts to “O Jogo GRIS : um jogo cheio de metáforas.”

  1. Nos extras do jogo, na Galeria, estão rascunhos feitos pela autora e pelo autor. Uma delas descreve cada cor como um estado de espírito a ser superado (a última, roxa, é a aceitação).

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